A Segunda Vinda (um pequeno delírio)

10 de novembro de 2012 § 2 Comentários

No último texto falei da Segunda Vinda profetizada por Tom Zé na última faixa de Tropicália, Lixo Lógico. A própria expressão “segunda vinda” lembra aquela história da volta de Cristo. O título da faixa que anuncia isso é “Apocalipsom B, o começo no palco do fim”. Coerente com esses tempos nossos de Fim do Mundo (Líquido).

Outra segunda vinda referida no disco é a de Dom Sebastião, o rei Português que sumiu e ficou de voltar. Portugual civilizou Ásia, América e África, faltou civilizar a Europa, disse Agostinho da Silva, citado por Caetano no Verdade Tropical.

Ou o mundo se Brasilifica ou vira Nazista, discursou Jorge Mautner em Urge Dracon.

Nós os brasileiros herdamos de Portugal, junto com a própria palavra saudade, a saudade de Dom Sebastião. O próprio Antonio Conselheiro, antes de Antonio Jo Santana, esperou por ele.

“O negro segura a cabeça com a mão e chora, e chora, sentindo a falta do rei.”

O Brasil juntou a saudade do fado com o banzo. A Saudade-Banzo Mouro-PortugÁfrica, o Sebastianismo, a saudade da Bahia que sentem todos os moradores de São Paulo (inclusive os que nunca estiveram lá), isso para mim é o traço principal do tropicalismo. Junto com a Antropofagia (sobrepostos e não lado-a-lado).

Apocalipsom A, o fim do palco do começo. Já estou começando a pensar que o Fim do Mundo de quê estão falando por aí nada mais será que o retorno de Dom Sebastião.

A Pós-Modernidade está nas últimas. Toda revolução é na verdade um passo (maior que as pernas) para trás. Disse isso um dos meus mentores, Régis Debray.

Profecia de Tom Zé

31 de outubro de 2012 § 1 comentário

Eu fui uma das pessoas que achou que o disco de Tom Zé estava com defeito porque as faixas terminam de repente. Depois acabei entendendo a piada. A própria Tropicália acabou de repente, com a prisão e exílio de Caetano e Gil. Antes de ir embora eles fizeram o enterro do movimento na televisão. Já conversando com amigos ouvi que o disco de Tom Zé é longo e difícil de ouvir inteiro de uma vez. Tenho essa sensação também, só que sempre que escuto a última faixa (que termina em fade out) fico morrendo de vontade de voltar pra primeira e escutar de novo a tese.

(A tese é que a Tropicália é resultado da mistura do pensamento Mouro presente nos ancestrais nordestinos com o Aristotélico ocidental. Na Bahia isso é visível, só acho que ele deixou um pouco de lado a África-Índia. Mas quem sou eu?)

Outro caso de Interrupção e Continuade (fade out) é o dueto de Tom Zé com Malu Magalhães. “Mas havia quimeras de coca com rum… PraCaDaUm”  A voz de Tom Zé canta cada sílaba quase como se fosse onomatopéia de batuque. Enquanto Malu canta suavemente, emendando uma coisa na outra “Praacaadaaum”.

E na última faixa ele diz “É hora da segunda vinda.” Na minha cabeça este vir ecoa com o chegar do “Mestre da Chegança” a que ele se refere em uma das músicas. (A Chegança é uma festa tradicional de alguns lugares do nordeste, de origem ibérica, que às vezes chega a simular uma batalha entre cristãos e mouros.)

Ou seja, ele profetiza um retorno da Tropicália. Que é algo que eu venho dizendo aqui também, então fico feliz de estar alinhado com isso. A Tropicália está mesmo na moda. Às vezes para o mal.

Às vezes para o bem. Tropicália, O filme de Marcelo Machado, por exemplo, não faz muitas explicações – é esperado que qualquer brasileiro sabe, por definição, o que foi o movimento. Todos somos entendidos. E o filme é uma delícia, sobretudo por causa da pesquisa de imagens de arquivo. E é sempre legal ouvir essas personagens falarem.

Recentemente tivemos Fabricando Tom Zé, Coração Vagabundo, Tempo Rei, A Labareda que Lambeu Tudo,  Jards Macalé: Um Morcego na Porta, Jorge Mautner: O Filho do Holocausto, Loki… Alguém lembra mais? Todos filmes sobre personagens da Tropicália.

Vejo isso com bons olhos porque estou cansado da bunda-molice sofrida da modernidade líquida e gostaria de ver um retorno da autonomia, da celebração da vida e da potência (uma palavra que vem ecoando em minha cabeça, de uma maneira desorganizada que ainda não consigo descrever direito. Tem a ver com a prosa de José Agrippino de Paula). Isso tudo tanto na pessoa quanto no Brasil.

Tropicalea Jacta Est

9 de agosto de 2012 § 1 comentário

Estou ouvindo o disco novo de Tom Zé, Tropicália Lixo Lógico, e está uma delícia. Por enquanto estou sem palavras. Tem uma citação de Parque Industrial em Tropicalea Jacta Est, terceira faixa do disco, feita não com palavras, mas pelo fraseado musical. Me arrepiou.

Num texto de Caetano ele narra que estava tentando melhorar sua performance corporal no palco, enquanto segurando o violão e Paula Lavigne apontou que “Caetano, o que você faz é legal, mas quando você vê Tom Zé, você diz ‘isso é um gênio”.

Essa citação está totalmente inventada, mas eu tenho certeza que li alguma coisa assim no Verdade Tropical ou no Mundo Não É Chato. É legítimo. Tom Zé é muito legítimo.

Quem puder ter contato com o disco, tenha.

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